Médico fisiatra pontua quais são os fatores essenciais para o processo e explica a importância dos cuidadores durante a recuperação pós-AVC
Gravidade das sequelas, tempo de recuperação, dependência física e emocional são alguns dos muitos questionamentos que podem fazer parte da vida pós-AVC – e não só para os pacientes, mas também para os familiares, cuidadores e outras pessoas que participam ativamente do processo de reabilitação.
Isso porque o acidente vascular cerebral, que acontece quando os vasos responsáveis pelo transporte de sangue ao cérebro ficam entupidos ou se rompem, é considerado a principal causa de perda de independência em todo mundo1 e pode impactar a mobilidade, autonomia e qualidade de vida de várias maneiras, deixando marcas que, se não forem tratadas, podem comprometer funções essenciais e resultar em perda de funcionalidade.
Algumas de suas possíveis consequências são2:
> Disfagia ou dificuldade de engolir
> Espasticidade
> Paralisia facial
> Fraqueza muscular
> Déficits de sensibilidade, que podem envolver dor, perda do tato e da capacidade de identificar temperaturas
> Alterações visuais, como visão dupla, desfocada e com dificuldades para ler ou identificar objetos
> Limitação de atividades motoras e funcionais
> Afasia, dificultando o uso da linguagem oral e escrita
A importância da reabilitação imediata
Apesar de variar entre os casos, o início dos cuidados pós-AVC deveria, idealmente, ser iniciado logo após a alta hospitalar. Segundo o médico fisiatra Dr. Eduardo Melo, o serviço de reabilitação deve fazer parte da rotina do paciente em até 03 meses, dependendo da urgência e gravidade do quadro, para se traçar os objetivos funcionais esperados o mais brevemente possível.
Esse atendimento pode ser dividido em duas fases: a aguda, definida pelos três primeiros meses, e a crônica, que se estabelece após seis meses do AVC – reforçando que a duração total varia e é delineada a partir dos objetivos propostos e necessidades de cada pessoa.
Alguns fatores devem nortear os profissionais envolvidos nos primeiros passos da recuperação. “É essencial avaliar precocemente a condição do paciente e entender como era a sua vida antes do episódio de AVC. Outro fator importante é a prevenção de complicações futuras, como dor, espasticidade, deformidades osteomusculares, depressão, entre outras.”, explica o especialista.
O médico ainda explica que, com o passar do tempo, o paciente pode ficar sujeito a reinternações por quedas, dor e infecções, que pioram ainda mais seu estado funcional e impedem uma maior chance de recuperação neurológica, além de trazer mais riscos de mortalidade.
Fatores que podem dificultar o processo
Segundo o especialista, não só os motivos relacionados às sequelas neurológicas e a doenças pré-existentes podem dificultar o processo: há também o impacto do contexto social.
“Há fatores relacionados ao lugar de moradia do paciente, acesso a serviços de transporte e saúde, geradores econômicos, disponibilidade de recursos para a reabilitação, além de desconhecimento por parte dos pacientes, familiares e de equipes de saúde. Ainda hoje, pacientes e profissionais consideram as sequelas do AVC como normais e/ou irrecuperáveis”, relata o doutor.
É importante lembrar que tanto as metas quanto a recuperação devem ser definidas de forma individual, levando em consideração o caso e a necessidade de cada paciente a curto, médio e longo prazo. “As de curto prazo são relacionadas com a prevenção de complicações e melhora clínica. Já as de médio prazo são, geralmente, relacionadas ao treino de recuperação neurológica. E, por fim, as de longo prazo estão relacionadas ao retorno dos pacientes e de suas famílias às atividades sociais, familiares, de lazer, etc.”, pontua o fisiatra.
A importância da rede de apoio para um processo de recuperação mais leve
Além de contar com a paciência, força de vontade e adesão do próprio paciente aos tratamentos propostos, os esforços para aumentar a qualidade de vida e melhorar a eficácia de todo o processo também são responsabilidade da família e cuidadores. Esses, que muitas vezes passam por cansaço físico, mudanças psicológicas e emocionais, costumam abandonar o ambiente de trabalho e fazer alterações na vida conjugal ou familiar, são essenciais para o desenvolvimento de uma possível melhoria3.
“Quando se discute a reabilitação pós-AVC, é fundamental considerar os cuidadores, que passam por uma certa sobrecarga e estresse. Normalmente, os pacientes, ao iniciarem seu programa de reabilitação, devem ter seus objetivos funcionais a serem discutidos com a equipe e seus cuidadores, incluindo tempo para conquista de cada objetivo”, completa o médico.
Por fim, é importante ter em mente que o tratamento imediato é tão importante quanto um olhar atencioso sobre o cuidador, um dos principais agentes responsáveis pela eficácia e melhoria das sequelas durante toda a jornada.
Referências:
- Ministério da Saúde. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/avc Consulta em 11/07/2024
- Sociedade Brasileira de AVC. Disponível em: https://avc.org.br/pacientes/como-se-recuperar-apos-o-avc/
Consulta em 11/07/2024 - Associação Ação AVC. Disponível em: https://www.acaoavc.org.br/pacientes-e-familiares/cuidadores-e-familiares-de-avc/avc-familiar-cuidador-autocuidado-e-autoestima
Consulta em: 11/07/2024